quarta-feira, 25 de março de 2009

Para Lili




Menina brincava no córrego que passava em frente à casa da avó. Da janela, a vizinha observa a cena:
 - Menina, sai dessa lama!
E menina desafia:
- Por acaso, a lama é sua?
N.

sábado, 21 de março de 2009

Por que as pessoas escrevem?



Por que as pessoas escrevem? Já me fiz tantas vezes esta pergunta que hoje posso respondê-la com a maior facilidade. Elas escrevem para criar um mundo no qual possam viver. Nunca consegui viver nos mundos que me foram oferecidos: o dos meus pais, o mundo da guerra, o da política. Tive de criar o meu, como se cria um determinado clima, um país, uma atmosfera onde eu pudesse respirar, dominar e me recriar a cada vez que a vida me destruísse. Esta é a razão de toda obra de arte.
Só o artista sabe que o mundo é uma criação subjetiva, que é preciso escolher, selecionar. A obra é a concretização, a encarnação do seu mundo interior. Ele espera impor sua visão pessoal, partilhá-la com os outros. Se não atinge esta última finalidade, o verdadeiro artista persiste assim mesmo. Os poucos momentos de comunhão com o mundo valem esse sofrimento, pois finalmente esse mundo foi criado para os outros como um legado, como um dom destinado a eles.
Também escrevemos para aprofundar o nosso conhecimento de vida. Para atrair, encantar e consolar. Escrevemos para acalentar nossos amantes. Para degustar em dobro a vida: no momento preciso e retrospectivamente, na sua lembrança. Escrevemos, como Proust, para tornar as coisas eternas e para nos convencermos de que elas o são. Para podermos transcender nossa vida e alcançarmos o que existe além dela. Escrevemos para aprender a falar com os outros, para testemunhar nossa viagem ao labirinto. Para abrir, expandir nosso mundo quando nos sentimos sufocados, oprimidos ou abandonados. Escrevemos como os pássaros cantam, como os primitivos dançam seus rituais. Se você não respira quando escreve, não grita, não canta, então não escreva porque sua literatura será inútil. Quando não escrevo, meu universo se reduz; sinto-me numa prisão. Perco minha chama, minhas cores. Escrever deve ser uma necessidade, como o mar precisa das tempestades - é a isto que eu chamo de respirar.
Anaïs Nin

sexta-feira, 20 de março de 2009

Recessão e depressão


A fotografia Migrant Mother, uma das fotos americanas mais famosas da década de 1930,
mostrando 
Florence Owens Thompson, de 32 anos de idade, mãe de sete crianças,
em Nipono, 
Califórniamarço de 1936,
em busca de um emprego ou de ajuda social para sustentar sua família.
Seu marido havia perdido seu emprego em 
1931, e morrera no mesmo ano.


Ronald Reagan, ator e presidente americano, popularizou uma boa frase: "Recessão é quando seu vizinho perde o emprego. Depressão é quando você perde o seu". O presidente Lula previu uma marola. Errou feio. Veio um tsunami, ou, como se diz em bom português, maremoto. O tsunami que arrebenta do lado lá também arrebenta do lado de cá. Vamos nós em frente. Em tempos de sombrias expectativas, temos que encontrar um suporte para manter a dignidade e não sucumbir ao desespero. Quem sabe tal suporte possa ser algo que harmonize ética e compaixão, com toques frutados e balsâmicos de alegria e coragem? Há quem prefira a esperança. Como não sou de esperar, prefiro partir para a ação.

"O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem".
João Guimarães Rosa