Por que será que gente se contenta com tão pouco? A gente se contenta com amizade virtual só para dizer que tem amigo; a gente se contenta com empregos ruins só para ter um emprego; se contenta com relacionamentos tristes apenas para ter um relacionamento. Inventamos estórias, inventamos pessoas apenas para tê-las. Aceitamos viver na linha abaixo da mediocridade porque é melhor um pouco do que nada. Acho que não toleramos o vazio. Não abrimos espaço para a falta, para o não saber, não ter a resposta. Aí qualquer coisa mais ou menos serve, contanto que se tenha a ilusão de ter. Melhor uma vida de ilusão do que o tédio real e massacrante, né? Quantos recursos disponíveis estão por aí para ajudar a conter o desespero. Conheço um remédio amargo que funciona bem em casos assim: abandonar o orgulho. Já aprendi que apenas os orgulhosos se desesperam. Porém, cuidado ao usar - ele tem um efeito colateral devastador: destrói ilusões e traz realidade demais para sua vida. O uso prolongado pode até provocar no usuário uma estranha sensação de preenchimento. Outro efeito comum é que ao tolerar o vazio e não se desesperar, o usuário começar a ser muito exigente com aquilo que traz para a sua vida. Isso pode torná-lo um ser insuportável para aqueles que defendem a mediocridade como estilo de vida. Tudo bem. Aceite-os, seja compassivo, adote uma atitude amorosa, ou, simplesmente, siga em frente. Cantando e andando pra eles.
Um espaço para dar palpites e vexames. Qualquer semelhança com a vida real... vocês já sabem o resto.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
terça-feira, 1 de setembro de 2009
sábado, 29 de agosto de 2009
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Do outro lado do mundo
sábado, 22 de agosto de 2009
Al Otro Lado del Río
Clavo mi remo en el agua
Llevo tu remo en el mío
Creo que he visto una luz al otro lado del río
El día le irá pudiendo poco a poco al frío
Creo que he visto una luz al otro lado del río
Sobre todo creo que no todo está perdido
Tanta lágrima, tanta lágrima y yo, soy un vaso vacío
Oigo una voz que me llama casi un suspiro
Rema, rema, rema-a
Rema, rema, rema-a
En esta orilla del mundo lo que no es presa es baldío
Creo que he visto una luz al otro lado del río
Yo muy serio voy remando muy adentro sonrío
Creo que he visto una luz al otro lado del río
Sobre todo creo que no todo está perdido
Tanta lágrima, tanta lágrima y yo, soy un vaso vacío
Oigo una voz que me llama casi un suspiro
Rema, rema, rema-a
Rema, rema, rema-a
Clavo mi remo en el agua
Llevo tu remo en el mío
Creo que he visto una luz al otro lado del río
Jorge Drexler
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Sobre amigos
Hoje é o Dia do Amigo e escolhi as palavras de Caio Fernando Abreu para tocar no assunto.
"Para mim, atualmente, companheirismo e lealdade são meio sinônimos de felicidade. Meus amigos são muito fortes e muito profundos, são amigos de fé, para quem eu posso telefonar às cinco da manhã e dizer: olha, estou querendo me matar, o que eu faço? Eles me dão liberdade para isso, não tenho relações rápidas, quer dizer, tenho porque todo mundo tem, mas procuro sempre aprofundar. E isso é felicidade, você poder contar com os outros, se sentir cuidado, protegido. Dei esse exemplo meio barra pesada de me matar... esquece, posso ligar para ver o nascer do sol no Ibirapuera às cinco da manhã. Já fiz isso, inclusive."
Aos meus queridos amigos toda a minha gratidão pelo amor e pela tolerância.
domingo, 12 de julho de 2009
Eu quero ir embora
A vontade de ir embora voltou. Pela minha alma é só o que passa, minuto a minuto. De tempos em tempos isso me acontece. Tenho encontrado lenitivos: mudar de cidade, mudar de profissão, mudar de bairro. Mudei tantas coisas. Já não funciona mais. Eu quero ir embora. Não tenho mais abrigo. O lar sonhado por tantos, criar raízes e fincá-las, ficar ali pra sempre... não funciona assim comigo. Sou canceriana, nascida a cinco de julho de um ano qualquer do século passado, levo a casa comigo. Já quis ir embora de mim, agora quero ir embora daqui. Sei que pertenço ao mundo, não a um lugar específico. Não sei voltar, não quero voltar a lugar nenhum ao qual já quase-pertenci. Aprendi a desenvolver uma identidade com os lugares onde vivi, um sentimento de quase-pertencimento que me faz construir toda uma história, fazer amigos, viver intensamente aquilo que parece ser, finalmente, a terra prometida, mas sei que é transitório. Um belo dia, eis que ele aparece, o desejo de ir embora, uma visita já anunciada. Eu começo a ouvir a canção do exílio e me sinto estrangeira, como se existisse um lugar para onde tenho que ir. É assim. Desde menina "eu vivo e previvo essas perdas e ansiedades". Conheço bem isso. Não vou encontrar lugar, não há o que encontrar. Não há lugar para voltar, apenas lugares de onde partir.
terça-feira, 23 de junho de 2009
Lakota Prayer
Aho Mitakuye Oyasin....
All my relations. I honor you in this circle of
life with me today. I am grateful for this opportunity to acknowledgeyou in this prayer....
To the Creator, for the ultimate gift of life, I thank you.
To the mineral nation that has built and maintained my bones and
all foundations of life experience, I thank you.
To the plant nation that sustains my organs and body and gives me
healing herbs for sickness, I thank you.
To the animal nation that feeds me from your own flesh and offers
your loyal companionship in this walk of life, I thank you.
To the human nation that shares my path as a soul upon the sacred
wheel of Earthly life, I thank you.
To the Spirit nation that guides me invisibly through the ups and
downs of life and for carrying the torch of light through the Ages. I
thank you.
To the Four Winds of Change and Growth, I thank you.
You are all my relations, my relatives, without whom I would not
live. We are in the circle of life together, co-existing,
co-dependent, co-creating our destiny. One, not more important than
the other. One nation evolving from the other and yet each dependent
upon the one above and the one below. All of us a part of the Great
Mystery.
Thank you for this Life.
Aho Mitakuye Oyasin
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Tente resolver o enigma
Comprei um refrigerador e este foi entregue sem o manual. Liguei para o SAC da Brastemp e pedi que me enviassem o bendito livreto. A atendente garantiu que no prazo máximo de uma semana ele seria entregue em minha residência. Bem, os mês acabou e nada do manual chegar. Hoje, por acaso, descobri que ele já havia sido entregue.
Considerando que tenho uma funcionária trabalhando em minha casa e que ela tem um modo muito peculiar de funcionamento, tente resolver o enigma:
Qual o melhor lugar para guardar o manual de um refrigerador?
sábado, 23 de maio de 2009
Home, sick home
domingo, 26 de abril de 2009
O Lama e a Terapeuta
Semana passada estive num encontro para um pequeno grupo com o Lama Michel. Nascido em São Paulo em 1981, Lama Michel Rinpoche encontrou-se pela primeira vez com Lama Gangchen Rinpoche aos cinco anos de idade e sua aproximação com o budismo tibetano tornou-se evidente. Foi reconhecido como a reencarnação de uma linhagem de Lamas tibetanos. Aos doze anos, por decisão própria, tornou-se monge e passou a viver no Monastério de Sera Me, no sul da Índia. Em 1994, foi entronizado tanto no Monastério de Sera Me como no Monastério de Tashi Lhunpo do sul da Índia. O nome tibetano de Lama Michel é Jangchub Choepel Lobsang Nyentrag que significa “Mente Ilustre que Difunde o Dharma com Sucesso”.
Lama Michel é dotado de uma simplicidade inspiradora. A maneira como aborda temas complexos faz do encontro um momento muito leve e divertido. Isso mesmo: di-ver-ti-do. Ele sabe ser engraçado e nos faz também rir daquilo que muitas vezes nos fez chorar. É um Lama muito jovem, tem sorriso largo e olhar amoroso. Depois de ouvi-lo falar de dor e sofrimento pensei no quão patéticos podemos ser em alguns momentos dessa nossa efêmera existência.
Dentre os ensinamentos discutidos nessa noite, um dos temas abordados foi As Três Qualidades do Dharma. Destaco duas aqui por serem também fundamentos da abordagem na qual trabalho, a Gestalt-terapia:
1. Impermanência: todas as coisas são impermanentes. Tudo muda constantemente sem parar. Nada é igual nem por um momento. Nada é estável. Um minuto atrás, nós éramos diferentes tanto física quanto mentalmente. O que nos faz sofrer não é a impermanência em si, mas o nosso desejo de que as coisas sejam permanentes, quando elas não o são. Impermanência é movimento, é vida. As coisas só existem na sua forma e cor presentes.
2. Não-eu, ou Vazio: nada que existe tem existência em si mesmo, separada e independente. Cada coisa precisa estar ligada com todo o resto para poder existir. Cada coisa é uma junção de elementos que não são ela mesma. Nada possui uma essência estável e permanente, por isso as coisas só existem assim como elas são agora. As ondas (todas as existências particulares) são manifestações passageiras do mar (o Todo, o conjunto e a fonte de todas as condições).
Nos próximos dias pretendo divagar acerca dessas leis. Se a vontade ainda continuar. Vocês sabem como é esse negócio da impermanência, né? Tudo muda a todo momento.
Inté!
sexta-feira, 17 de abril de 2009
Lua Adversa
Fases de andar escondida,
Fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...
In:"Vaga Música", 1942. Cecília Meireles.
quarta-feira, 1 de abril de 2009
Contos Curtos
Um dia, Hemingway escreveu uma história em seis palavras: “Vende-se: sapatos de bebê. Nunca usados”, e chamou-lhe a sua melhor história. Isto inspirou a revista Wired a pedir a vários escritores famosos a escreverem contos igualmente curtos. Eu, particularmente, tenho grande apreço por essa forma concisa de expressão. Escolhi alguns para mostrar a vocês.
Eis aqui:
Desejei-o. Tive-o. Que merda.
- Margaret Atwood
- Margaret Atwood
Camisa tirada à pressa. Cabeça não.
- Joss Whedon
- Joss Whedon
Com as mãos sangrentas, digo adeus.
- Frank Miller
- Frank Miller
O pênis dele rasgou-se; ele engravidou!
- Rudy Rucker
- Rudy Rucker
Demasiado caro continuar a ser humano.
- Bruce Sterling
- Bruce Sterling
Coração partido, 45, desejo conhecer mutilado.
- Mark Millar
- Mark Millar
Epitáfio: Não o devia ter alimentado.
- Brian Herbert
- Brian Herbert
Por favor, é tudo. Eu juro.
- Orson Scott Card
- Orson Scott Card
Pensei que tinha razão. Não tinha.
- Graeme Gibson
- Graeme Gibson
Morri. E tive saudades tuas. Beijas-me?
- Neil Gaiman
- Neil Gaiman
quarta-feira, 25 de março de 2009
Para Lili
Menina brincava no córrego que passava em frente à casa da avó. Da janela, a vizinha observa a cena:
- Menina, sai dessa lama!
E menina desafia:
- Por acaso, a lama é sua?
N.
sábado, 21 de março de 2009
Por que as pessoas escrevem?
Por que as pessoas escrevem? Já me fiz tantas vezes esta pergunta que hoje posso respondê-la com a maior facilidade. Elas escrevem para criar um mundo no qual possam viver. Nunca consegui viver nos mundos que me foram oferecidos: o dos meus pais, o mundo da guerra, o da política. Tive de criar o meu, como se cria um determinado clima, um país, uma atmosfera onde eu pudesse respirar, dominar e me recriar a cada vez que a vida me destruísse. Esta é a razão de toda obra de arte.
Só o artista sabe que o mundo é uma criação subjetiva, que é preciso escolher, selecionar. A obra é a concretização, a encarnação do seu mundo interior. Ele espera impor sua visão pessoal, partilhá-la com os outros. Se não atinge esta última finalidade, o verdadeiro artista persiste assim mesmo. Os poucos momentos de comunhão com o mundo valem esse sofrimento, pois finalmente esse mundo foi criado para os outros como um legado, como um dom destinado a eles.
Também escrevemos para aprofundar o nosso conhecimento de vida. Para atrair, encantar e consolar. Escrevemos para acalentar nossos amantes. Para degustar em dobro a vida: no momento preciso e retrospectivamente, na sua lembrança. Escrevemos, como Proust, para tornar as coisas eternas e para nos convencermos de que elas o são. Para podermos transcender nossa vida e alcançarmos o que existe além dela. Escrevemos para aprender a falar com os outros, para testemunhar nossa viagem ao labirinto. Para abrir, expandir nosso mundo quando nos sentimos sufocados, oprimidos ou abandonados. Escrevemos como os pássaros cantam, como os primitivos dançam seus rituais. Se você não respira quando escreve, não grita, não canta, então não escreva porque sua literatura será inútil. Quando não escrevo, meu universo se reduz; sinto-me numa prisão. Perco minha chama, minhas cores. Escrever deve ser uma necessidade, como o mar precisa das tempestades - é a isto que eu chamo de respirar.
Só o artista sabe que o mundo é uma criação subjetiva, que é preciso escolher, selecionar. A obra é a concretização, a encarnação do seu mundo interior. Ele espera impor sua visão pessoal, partilhá-la com os outros. Se não atinge esta última finalidade, o verdadeiro artista persiste assim mesmo. Os poucos momentos de comunhão com o mundo valem esse sofrimento, pois finalmente esse mundo foi criado para os outros como um legado, como um dom destinado a eles.
Também escrevemos para aprofundar o nosso conhecimento de vida. Para atrair, encantar e consolar. Escrevemos para acalentar nossos amantes. Para degustar em dobro a vida: no momento preciso e retrospectivamente, na sua lembrança. Escrevemos, como Proust, para tornar as coisas eternas e para nos convencermos de que elas o são. Para podermos transcender nossa vida e alcançarmos o que existe além dela. Escrevemos para aprender a falar com os outros, para testemunhar nossa viagem ao labirinto. Para abrir, expandir nosso mundo quando nos sentimos sufocados, oprimidos ou abandonados. Escrevemos como os pássaros cantam, como os primitivos dançam seus rituais. Se você não respira quando escreve, não grita, não canta, então não escreva porque sua literatura será inútil. Quando não escrevo, meu universo se reduz; sinto-me numa prisão. Perco minha chama, minhas cores. Escrever deve ser uma necessidade, como o mar precisa das tempestades - é a isto que eu chamo de respirar.
Anaïs Nin
sexta-feira, 20 de março de 2009
Recessão e depressão
A fotografia Migrant Mother, uma das fotos americanas mais famosas da década de 1930,
mostrando Florence Owens Thompson, de 32 anos de idade, mãe de sete crianças,
em Nipono, Califórnia, março de 1936,
em busca de um emprego ou de ajuda social para sustentar sua família.
Seu marido havia perdido seu emprego em 1931, e morrera no mesmo ano.
mostrando Florence Owens Thompson, de 32 anos de idade, mãe de sete crianças,
em Nipono, Califórnia, março de 1936,
em busca de um emprego ou de ajuda social para sustentar sua família.
Seu marido havia perdido seu emprego em 1931, e morrera no mesmo ano.
"O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem".
João Guimarães Rosa
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