domingo, 26 de abril de 2009

O Lama e a Terapeuta


Semana passada estive num encontro para um pequeno grupo com o Lama Michel. Nascido em São Paulo em 1981, Lama Michel Rinpoche encontrou-se pela primeira vez com Lama Gangchen Rinpoche aos cinco anos de idade e sua aproximação com o budismo tibetano tornou-se evidente. Foi reconhecido como a reencarnação de uma linhagem de Lamas tibetanos. Aos doze anos, por decisão própria, tornou-se monge e passou a viver no Monastério de Sera Me, no sul da Índia. Em 1994, foi entronizado tanto no Monastério de Sera Me como no Monastério de Tashi Lhunpo do sul da Índia. O nome tibetano de Lama Michel é Jangchub Choepel Lobsang Nyentrag que significa “Mente Ilustre que Difunde o Dharma com Sucesso”. 
Lama Michel é dotado de uma simplicidade inspiradora. A maneira como aborda temas complexos faz do encontro um momento muito leve e divertido. Isso mesmo: di-ver-ti-do. Ele sabe ser engraçado e nos faz também rir daquilo que muitas vezes nos fez chorar. É um Lama muito jovem, tem sorriso largo e olhar amoroso. Depois de ouvi-lo falar de dor e sofrimento pensei no quão patéticos podemos ser em alguns momentos dessa nossa efêmera existência.
Dentre os ensinamentos discutidos nessa noite, um dos temas abordados foi As Três Qualidades do Dharma. Destaco duas aqui por serem também fundamentos da abordagem na qual trabalho, a Gestalt-terapia:

1. Impermanência: todas as coisas são impermanentes. Tudo muda constantemente sem parar. Nada é igual nem por um momento. Nada é estável. Um minuto atrás, nós éramos diferentes tanto física quanto mentalmente. O que nos faz sofrer não é a impermanência em si, mas o nosso desejo de que as coisas sejam permanentes, quando elas não o são. Impermanência é movimento, é vida. As coisas só existem na sua forma e cor presentes.
2. Não-eu, ou Vazio: nada que existe tem existência em si mesmo, separada e independente. Cada coisa precisa estar ligada com todo o resto para poder existir. Cada coisa é uma junção de elementos que não são ela mesma. Nada possui uma essência estável e permanente, por isso as coisas só existem assim como elas são agora. As ondas (todas as existências particulares) são manifestações passageiras do mar (o Todo, o conjunto e a fonte de todas as condições).

Nos próximos dias pretendo divagar acerca dessas leis. Se a vontade ainda continuar. Vocês sabem como é esse negócio da impermanência, né? Tudo muda a todo momento.
Inté!

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Lua Adversa



Tenho fases, como a lua,
Fases de andar escondida,
Fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!

Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

In:"Vaga Música", 1942. Cecília
Meireles.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Contos Curtos


Um dia, Hemingway escreveu uma história em seis palavras: “Vende-se: sapatos de bebê. Nunca usados”, e chamou-lhe a sua melhor história. Isto inspirou a revista Wired a pedir a vários escritores famosos a escreverem contos igualmente curtos. Eu, particularmente, tenho grande apreço por essa forma concisa de expressão. Escolhi alguns para mostrar a vocês. 

Eis aqui:

Desejei-o. Tive-o. Que merda.
- Margaret Atwood

Camisa tirada à pressa. Cabeça não.
- Joss Whedon

Com as mãos sangrentas, digo adeus.
- Frank Miller

O pênis dele rasgou-se; ele engravidou!
- Rudy Rucker

Demasiado caro continuar a ser humano.
- Bruce Sterling

Coração partido, 45, desejo conhecer mutilado.
- Mark Millar

Epitáfio: Não o devia ter alimentado.
- Brian Herbert

Por favor, é tudo. Eu juro.
- Orson Scott Card

Pensei que tinha razão. Não tinha.
- Graeme Gibson

Morri. E tive saudades tuas. Beijas-me?
- Neil Gaiman