quinta-feira, 29 de abril de 2010

Quando o pai do pai do meu pai



Texto de Gilberto Reis

Quando o Pai do Pai do Pai do meu Pai tinha uma tarefa difícil a cumprir, dirigia-se a um certo lugar na floresta, fazia uma fogueira e lançava-se numa oração silenciosa.
Quando mais tarde o Pai do Pai do meu Pai se encontrou perante a mesma tarefa, dirigiu-se ao mesmo lugar da floresta e disse: já não sabemos fazer uma fogueira, mas ainda sabemos rezar.
Mais tarde o Pai do meu Pai viu-se perante a mesma tarefa. Foi ele também à floresta e disse:já não sabemos fazer fogueiras, já não conhecemos os mistérios da oração, mas sabemos em que ponto da floresta é que isso se passou.
Quando a vez do meu Pai chegou, disse:
já não sei fazer a fogueira, nem orar, nem o lugar na floresta,
mas sei contar a história e isso deve bastar.
E bastou.
Quando me vi perante a mesma tarefa já não sabia contar a história.

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